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Inovação aberta e cidadã contra o Coronavírus-19

Frena la Curva

Por Bia Martins

A crise do coronavírus está obrigando o mundo a parar e oferecendo uma oportunidade inédita para a criação de novas formas de produção e de vida em sociedade. Aqui neste post vamos abordar algumas das iniciativas que surgiram no meio dessa crise com o propósito de superar de forma colaborativa as dificuldades, como projetos de inovação aberta para o desenvolvimento de ventiladores pulmonares de baixo custo e iniciativas cidadãs para ajudar a lidar com a pandemia.

O primeiro caso é a rede cidadã de autoajuda contra o Covid-19 Frena La Curva. Criada a partir do Laboratório de Governo Aberto em Saragoça, na Espanha, reúne informações confiáveis sobre a doenca, diversos tipos de orientações para a quarentena (cuidados, exercícios físicos em casa, apoio para saúde mental, recursos educacionais etc), dicas para o teletrabalho e, talvez o mais interessante, também ajuda a conectar e propagar iniciativas de solidariedade e autoajuda entre vizinhos.   

A proposta é que seja uma espécie de conector entre cidadãos interessados em construir coletivamente formas de enfrentar a pandemia. Todos podem participar de diversas maneiras: propondo projetos, oferecendo recursos ou mesmo pedindo ajuda. No momento, há uma convocatória para propostas de laboratórios cidadãos distribuídos, como experimentos de colaboração e inovação.

A boa notícia é que essa rede está se replicando pela América Latina e também aqui no Brasil, onde um grupo de pessoas, coletivos e ativistas está trabalhando para colocar a versão brasileira, Segura a Onda, que acaba de ser lançada.. Já existem também projetos similares em diversos países como Argentina, Colômbia, Costa Rica,  Equador, Guatemala, México e Peru.

Só como ilustração, o grupo no México é formado por uma rede de coletivos e organizações, reunindo ativistas, jornalistas, acadêmicos, funcionários do governo e líderes do setor empresarial, o que mostra como é possível envolver pessoas de diferentes áreas de atuação em prol de um bem comum, impulsionando uma resiliência cidadã para enfrentar a situação crítica provocada pelo COVID-19.

Em outra frente, esta em língua inglesa, existe o Coronavirus Tech Handbook, voltado a tecnologistas, especialistas, organizações da cidade civil e instituições públicas e privadas, com o objetivo de incentivar a colaboração para chegar mais rápido às soluções. Entre os tópicos listados, destacamos o de Hardware, que lista vários projetos de desenvolvimento de equipamentos para o enfrentamento da doença como ventiladores, concentradores de oxigênio e mesmo máscaras no modelo aberto, alguns no modelo DIY (Faça Você Mesmo).

Há toda uma sessão dedicada a projetos de ventilador mecânico, a grande prioridade deste momento, já que o estoque existente em todo mundo é muito menor do que o necessário para atender ao crescimento exponencial do número de doentes graves. Uma das iniciativas de inovação aberta divulgada nessa página é o Open Source Ventilator, formada por um time de voluntários que está trabalhando no desenvolvimento de um ventilador com design aberto e de baixo custo,

Existem vários outros projetos de equipamentos mais simples, como máscaras, que andam em falta nos mercados: uma bem simples de fazer (DIY) como a do vídeo abaixo, e outras mais sofisticadas, como esta em impressão 3D, com design livre para reprodução para uso próprio. Há ainda projetos de equipamentos para não deixar a pessoa tocar o rosto ou abrir a porta sem usar a mão. Pequenas invenções que podem ajudar a tornar a vida das pessoas mais segura nesta fase.

Na verdade, existe uma profusão de projetos em todo mundo para enfrentar a pandemia. Aqui no Brasil, por exemplo, o professor Jurandir Nadal, chefe do Laboratório de Engenharia Pulmonar e Cardiovascular da Coppe/UFRJ, junto com inúmeros colaboradores, está desenvolvendo um ventilador nacional, com registro em domínio público, para ser fabricado rapidamente para ajudar a a demanda urgente destes dispositivos no país.

E os exemplos não param de chegar. Depois de ter publicado este post, soube de mais um caso brasileiro: a engenheira Thabata Ganga, de 26 anos, lançou um chamamento nas redes para makers, cientistas e fablabs a fim de criar uma rede para desenvolver equipamentos médicos por impressão 3D. Em menos de 24 horas quase 500 profissionais de todo o Brasil já haviam se somado ao projeto, por este formulário aqui. A inspiração foi a experiência de dois italianos, Cristian Fracassi e Alessandro Romaioli, que produziram válvulas para consertar respiradores de um hospital na Itália através da impressão 3D. A peça original é vendida por cerca de U $11 mil, já as cópias em 3D saem por U$ 1,00. Leia mais sobre a iniciativa nesta matéria. 

Mais um: acaba de ser criado um grupo um grupo no Facebook, COVID-19 Air BRASIL - Fast production of assisted ventilation devices, para divulgar experiências e conectar makers, especialistas e cientistas interessados em buscar soluções para a produção de respiradores mecânicos. 

Todas essas iniciativas revelam o potencial colaborativo latente na sociedade que esta crise, apesar de toda a dor que causará, está impulsionando. Uma oportunidade para cada um sair um pouco de sua rotina, olhar em volta e ver como pode ajudar o coletivo. Técnicos e cientistas podem ajudar no tratamento dos doentes, criando equipamentos de baixo custo, mesmo que esse não seja parte de seu trabalho de rotina. Nós, pessoas comuns, podemos nos conectar uns aos outros para atravessar com mais resilência essa fase tão difícil, oferecendo o que temos à mão ou pedindo o que nos falta. Ou como diz o pessoal do Frena La Curva do México: Somos a vacina contra o COVID-19.

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