OpenStreetMap, o mapa mundial livre e colaborativo

Por Bia Martins

Para fazer frente ao protecionismo comercial das grandes plataformas de mapeamento e favorecer um registro mais inclusivo, foi criado o projeto aberto e colaborativo de geolocalização OpenStreetMap (OSM). Lançado em 2004 pelo britânico Steve Coast, a iniciativa tem sido chamada de Wikipédia dos Mapas, pois seus dados são registrados de forma colaborativa por qualquer pessoa que queira participar.

São conhecidas as falhas do Google Maps no registro de regiões consideradas menos importantes. No Rio de Janeiro, por exemplo, apesar do esforço para incluir algumas favelas em 2016, por conta da realização das Olimpíadas na cidade, muitas comunidades ainda permanecem de fora do mapa digital. Tente, por exemplo, visualizar pela plataforma as ruas do Morro da Providência na região da Gamboa, na área central da cidade. Verá apenas uma representação em blocos das quadras e ruas, com poucos detalhes sobre endereços ou trajetos, sem comparação com qualquer região do chamado asfalto da Zona Sul carioca.

Numa direção alternativa, o OpenStreetMap depende apenas da motivação das próprias pessoas em registrar áreas que considerem relevantes. Em 2010, logo após a tragédia causada pelo furacão Isaac no Haiti, o OSM foi a referência mais completa de localização de estradas, hospitais, centros de triagem e campos de refugiados para as equipes de ajuda humanitária. Também no Brasil, houve iniciativas semelhantes nas áreas atingidas pelas enchentes em Alagoas, em 2010, e no Rio de Janeiro, em 2011.

O mapa colaborativo começou com um grupo de voluntários andando pelas ruas com uma unidade de GPS, um caderno de anotações ou um gravador de voz. Posteriormente, foram agregados dados disponíveis de outras fontes, comerciais e governamentais, o que ajudou o projeto a ganhar maior dimensão – como imagens do satélite Landsat 7, Prototype Global Shorelines e Sitema Tiger dos EUA. Atualmente o projeto tem dimensão mundial, com 500 mil colaboradores, que inserem informações em vários idiomas.

É possível contribuir de muitas maneiras: acrescentando ou corrigindo informações nas áreas que você conhece bem; acrescentando fotos georreferenciadas; incluindo trilhas com auxílio de um aparelho com GPS; importando dados de outra fonte etc. Uma maneira muito eficaz de contribuir é organizar uma incursão local estruturada, convidando um grupo de amigos e/ou vizinhos para mapear uma determinada área durante um dia ou um final de semana, no que é chamado de “mapping parties”, em inglês.

O serviço e os direitos legais do projeto são geridos pela OpenStreetMap Foundation (OSMF). Os dados da plataforma são publicados sob a licença Open Database License, o quer dizer que você é livre para copiar, distribuir, transmitir e adaptar os dados, desde que cite a fonte. E qualquer alteração ou inovação a partir desses dados devem ser distribuídas sob a mesma licença. No entanto, no caso de dados importados de outras fontes, as licenças originais prevalecem.

Para se ter uma ideia do diferencial que o mapeamento colaborativo e aberto pode representar, vale dar uma olhada nos diferentes registros da região da faixa de Gaza. Enquanto no Google Maps quase nada é registrado, no OpenStreetMap vemos mais detalhes fornecidos pelos próprios habitantes da região.

Faixa de Gaza - Google Maps

 

Faixa de Gaza - OpenStreetMap

Outra diferença importante é que qualquer um pode acessar gratuitamente os dados cartográficos do OSM, ao contrário das plataformas comerciais que impõem restrições legais ou técnicas para utilização de seus dados em aplicativos e sites. Na opinião dos fundadores e da comunidade do projeto, essas restrições impedem que qualquer pessoa os utilize de maneiras criativas, produtivas ou de formas inesperadas.

Atualmente, diversos países já têm mapas de qualidade igual ou superior aos concorrentes comerciais, como Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos. No Brasil, ainda falta bastante: nas maiores cidades, em geral, há o registro apenas do centro e das regiões mais ricas. Por outro lado, há registros de cidades do interior que não são encontrados em outros mapas digitais, assim como a sinalização de outras vias que em geral não são referenciadas, como ciclovias e trilhas, por exemplo. Uma vantagem da plataforma, segundo seus administradores, é a velocidade com que novos dados podem ser incorporados, dando mais agilidade para atualização de informações como novas construções, ruas bloqueadas etc., que podem ser, em tese, imediatamente visualizadas.

Como um projeto colaborativo, OpenStreetMap só poderá  ganhar maior relevância na medida em que mais e mais pessoas se engajarem na sua construção. A Wikipédia cresceu assim e acabou tornando as enciclopédias tradicionais, como Britânica por exemplo, obsoletas. Depende então do engajamento de cada um para que o mapa aberto e colaborativo se torne uma referência de consulta geoespacial completa, abrangente e includente, sem o viés elitizado, que privilegia algumas regiões em detrimento de outras, e com abertura para sua utilização nos mais diversos projetos e inovações.

Para conhecer o projeto no Brasil: http://www.openstreetmap.com.br/

Para saber mais - http://wiki.openstreetmap.org/wiki/Pt:Main_Page