Taí uma pergunta incômoda. De modo geral, condenamos a crescente precariedade do trabalho, mas é mais difícil pararmos para avaliar o quanto nossos hábitos de consumo podem estar contribuindo para o fortalecimento do modelo das corporações de plataforma que praticamente não garante nenhum direito trabalhista e deixa todos os custos da operação e a cobertura de riscos por conta do trabalhador.

A partir de um seminário sobre cooperativismo de plataforma e políticas públicas organizado pelo Digilabour e realizado em junho em Porto Alegre, movimentos sociais, cooperativas e pesquisadores construíram coletivamente uma carta com um plano de ação para o cooperativismo de plataforma no Brasil. Isso prevê a construção de um ecossistema articulado de trabalho, tecnologias e desenvolvimento local.

Não é de hoje que pesquisadores apontam para os vieses presentes nos projetos da Wikimedia. O problema principal é que, embora tenham a característica de serem abertos e colaborativos, na prática são editados majoritariamente por homens brancos que moram nos EUA ou na Europa, o que faz com que sua visão de mundo prevaleça e a proposta de ser uma representação do conhecimento coletivo acabe distorcida. Tendo em vista essa questão, a Wiki Movimento Brasil em parceria com o Instituto Goethe promoveu na semana passada o debate "Rumo a uma Wki Decolonial", como parte do evento Transbordados, que é um preparativo para a conferência internacional WikidataCon 2021 que será realizada no final de outubro. O Wikidata é um banco de dados secundário, livre, colaborativo e multilíngue que coleta dados estruturados que servem de suporte aos projetos da Wikimedia e está aberto para consulta e edição por qualquer pessoa.

A Señoritas Courier, uma das cooperativas de entregadores criadas como alternativa ao modelo de trabalho precarizado de plataformas como Uber Eats e iFood (já falamos dela aqui), acaba de ganhar um curta-metragem produzido pelo Laboratório de Pesquisa DigiLabour.

Quando se fala atualmente em economia peer-to-peer ou economia do comum, geralmente as referências são de exemplos bem recentes e em sua maioria internacionais, como é o caso das iniciativas do Cooperativismo de Plataforma, do qual falamos aqui. Porém, o Brasil tem já ampla experiência em uma vertente da economia do comum que merece ser mais conhecida: a economia solidária. Essa prática surge na Inglaterra no século XIX, vem para o Brasil no século XX, tendo maior desenvolvimento a partir da década de 1980. De 2003 a 2016, houve inclusive uma política nacional coordenada por Paul Singer, que foi Secretário Nacional de Economia Solidária durante os governos do PT.

Num mundo em que a tecnologia é vista como uma grande caixa-preta, indecifrável e perigosa, com grandes plataformas que monitoram e processam nossos dados pessoais sem sabermos bem como ou para quê, como pensar em tecnologias convivialistas? Que outra forma de pensar e produzir a tecnologia pode nos fazer vislumbrar parcerias, colaborações, troca de conhecimento e busca por soluções coletivas para problemas comuns? Esse foi o mote do encontro Conviviações Por tecnologias convivialistas – sobre hackerspaces e tecnologias livres realizado dia 13 de abril com a participação de Ka Menezes, professora da UFBA e integrante do Raul Hacker Club, em Salvador (BA), e Leonardo Foletto, jornalista, professor e pesquisador de tecnologia e ativismo, que desde 2008 está à frente do BaixaCultura espaço online de cultura livre e (contra) cultura digital.

Frente ao esgotamento das grandes ideologias da modernidade – socialismo, comunismo, anarquismo e liberalismo – novos pensamentos e práticas vêm surgindo, ou vêm sendo recuperados, como propostas para a construção de novos mundos. Neste post vou trazer uma síntese de um diálogo promovido recentemente entre dois desses pensamentos: o Convivialismo e o Comum.

DisCO Project é uma iniciativa dentro do conceito de Cooperativismo de Plataforma, mas que vai além ao agregar também os princípios do comum, das práticas P2P e da economia feminista. Com inspiração no pensamento de autores como David Graeber (Bullshit Jobs) e Donna Haraway (Staying with the Trouble),  e a partir da experiência de alguns projetos já ativos, foi construída uma plataforma de recursos, conceituais e práticos, para incentivar a propagação desse movimento.

Aqui no Em Rede já escrevemos sobre várias tecnologias livres que são alternativas às plataformas corporativas. Desta vez, vamos abordar o PeerTube, uma plataforma livre para vídeos, descentralizada e gratuita, que tem cerca de 60 mil usuários e 400 mil vídeos publicados que já foram vistos mais de 15 milhões de vezes.

No mês passado, acompanhamos o Breque dos Apps, com dois dias de paralisação nacional dos entregadores de aplicativo (1º e 25 de julho) que, se não chegaram a parar o serviço no país, ficaram longe de ser fiasco, pois além de causarem atrasos nas entregas, deram  visibilidade para a extrema exploração a que estão submetidos esses trabalhadores, ajudando a desmistificar de vez a imagem da tal Economia do Compartilhamento como uma alternativa de trabalho autônomo. A boa notícia, além claro do surgimento do movimento dos Entregadores Antifascistas, é que também ganharam visibilidade diversas iniciativas de entregadores que estão se autoorganizando para oferecer o serviço diretamente para os consumidores, sem intermediários, podendo assim garantir melhores condições de trabalho e remuneração mais digna.

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