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Remix e fotografia, além de um trabalho sem classificação

Reynaldo Carvalho

"Nenhuma superfície é virgem, tudo já nos chega áspero, descontínuo, desigual, marcado por algum acidente: o grão do papel, as manchas, a trama, o entrelaçado dos traços, os diagramas, as palavras."

Roland Barthes

 

 

 

 

Em 2016 a dissertação Remix e Fotografia: manifestações do remix nas montagens de fotolivros com templates, da pesquisadora Lolita Fernanda Magni, foi apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Dentre os vários aspectos instigantes abordados, pode ser destacado o Eixo 4, que trata do remix e da reinvenção do autor. Seguem trechos selecionados da dissertação, que pode ser lida, na íntegra, aqui: http://repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/9508/1/000480941-Texto%2bCompleto-0.pdf

“Segundo Barthes, foi o Surrealismo que dessacralizou a imagem do autor, dando espaço ao que ele define como Scriptor, uma espécie de alegorista que atua recombinando significados pré-existentes. Para tanto, o Scriptor não estaria mais em condição anterior ao seu texto (ou obra), mas nasce ao mesmo tempo que ele, e desta forma ‘não existe outro tempo para além do da enunciação, e todo o texto é escrito eternamente aqui e agora’.

Desta maneira, Barthes define a obra como ‘um espaço de dimensões múltiplas, onde se casam e se contestam escritas variadas, nenhuma das quais é original: o texto é um tecido de citações, saídas dos mil focos da cultura’. Neste estudo, entendemos que o conceito de Scriptor de Barthes aproxima-se da figura do DJ na Cultura Remix, que ora pode atuar como um alegorista, arquitetando conotações extraídas de determinado contexto cultural; ora pode atuar como um bricoleur, costurando fragmentos disponíveis em um determinado ambiente. No caso do DJ/Scriptor, a enunciação nasce na fusão dos diversos fragmentos arranjados em uma nova obra, mas esta fala é compartimentada, resultado de diversas vozes. Neste sentido, podemos pensar que uma obra remixada renasce atualizada em algo novo, onde mais importa a enunciação em si do que a sua relação com a pessoa do autor.

Para Barthes, foi o positivismo que, permeado por uma ideologia capitalista, concedeu tanta relevância à pessoa do autor. Ainda no início do século XVIII, a criação da lei do Copyright teve como função regular os direitos dos autores sobre o monopólio das impressoras de livros (que mais tarde seriam as editoras).

De acordo com Lemos, esta ideia de um autor iluminado, dono da sua criação, surgiu com a modernidade industrial, a fim de controlar a circulação de bens culturais, de forma que o autor cedesse o seu direito aos editores em troca de pagamento de royalties. O autor afirma que ‘este modelo manteve-se estável até o surgimento do pós-modernismo, com as atividades de apropriação’.

(...) estas atividades de apropriação deram origem e são fundamentais para as práticas do Remix, que como forma de discurso, configura-se como uma costura de citações. Quando o Remix atinge um alto nível de complexidade alegórica, seus fragmentos adquirem tal autonomia que os rastros da obra original se esmaecem, e abala-se também a sua aura, colocando em xeque a sua autoria. Segundo Navas, é neste momento que o Remix torna-se discurso, e seus princípios entram em jogo como estratégias conceituais.

A partir dos movimentos artísticos que deram origem às práticas de apropriação na primeira metade do século XX, esta reflexão sobre o papel do autor na produção de bens culturais parece ter-se tornado fundamental. Segundo Navas (2012), estas formas de apropriação precisaram primeiro ser assimiladas culturalmente, para que pudessem ser então absorvidas como parte de uma condição pós-moderna.”

Também em 2016 aconteceu uma exposição no Museu de Arte Contemporânea da USP, com o artista Gustavo von Ha, que desafia classificações.

Gustavo von Ha

“Procedimento Drippings II” - Gustavo von Ha

Em uma matéria de Leila Kiyomura pode-se ler:

“Não é uma exposição linear para olhar, apreciar e descobrir o artista. Inventário: Arte Outra, com 34 trabalhos recentes – entre telas, vídeo, fotos e objetos – de Gustavo von Ha, está longe do óbvio. O artista gestual que se anuncia pintando telas pequenas e depois gigantes também não é real. Gustavo von Ha é um homônimo. Um artista inventado pelo paulista da cidade de Presidente Prudente. Porém, a proposta da arte do homônimo e de seu criador tem versões infinitas que ficam no limite entre realidade e ficção. Uma verdade que ele consegue reinventar com ironia e humor.

Tudo que ele apresenta é inédito, mas não é original. Pelo contrário. O pensador e pesquisador Gustavo von Ha define: ‘Somos seres complexos e nossa formação se dá inteira pela imitação’. A sensação, ao entrar na galeria, é de observar um artista em formação. Na primeira sala, há telas pequenas de quem ainda está percebendo o espaço. Trabalha com camadas de tintas sobrepostas. Já na segunda, há telas de grandes dimensões com uma trama de cores de uma pintura gestual. Ele estende a lona no chão e pinta em gestos largos de uma dança ou performance. As cores vibrantes e o desenho que sugere imagens como a do vento sobre as folhas das árvores – paisagem reforçada pelo vídeo que está na última sala – chamam a atenção do visitante.

‘Os trabalhos aludem ao mito de um gesto artístico heroico’, explica a curadora da mostra, Ana Avelar, professora da Universidade de Brasília (UnB) e pós-doutoranda no MAC. ‘Desta vez, para discutir noções como cópia, simulação e apropriação, von Ha escolhe a visualidade da pintura gestual – não geométrica, não figurativa, também conhecida como expressionista abstrata, abstrato-lírica ou informalista.’

Para a montagem da exposição, Ana acompanhou e pesquisou von Ha no decorrer de três anos. ‘A mostra traz uma seleção de imagens que provocam a sensibilidade e seduzem pela cor e pelo gesto. É essa apreensão que o artista intenciona desestabilizar.’

Como uma mostra didática que tenta resgatar o cenário da trajetória de um grande artista, o visitante pode ver vitrines com os materiais que ele utiliza, como pincéis, tintas, espátulas, vidros com pigmentos e esponjas do mar. ‘Alguns desses materiais foram realmente usados e outros não.’

Na terceira sala, há mais vitrines com documentos, fotografias, livros, cadernos do artista e um manual de Como fazer um Pollock, em uma evocação a Jackson Pollock, um dos pioneiros do expressionismo abstrato norte-americano. Um inventário que acaba intrigando o visitante. Afinal, quem é Gustavo von Ha? Está vivo ou morto?

Gustavo von Ha

Documentos, livros e fotos da década de 1950

Diante dos jornais, cartazes reais, inclusive da 5ª Bienal de São Paulo de 1959, a confusão aumenta. Nas contas com a realidade, percebe-se que o artista não é o mesmo von Ha que nasceu em 1977. As evidências indicam que o homônimo viveu as poéticas daquela época. ‘As obras remetem a uma visualidade inscrita a partir do segundo pós-guerra, entre os anos 1950 e 1960, comumente denominada abstração expressiva ou gestual, pintura de ação, informalismo ou pintura matéria’, esclarece a curadora Ana Avelar. ‘Quase como um falsificador, von Ha se apropria de procedimentos, modos de fazer e mesmo da imagem de outros artistas, em trabalhos que evocam de Jackson Pollock a Alberto Burri. São citações e comentários de uma imagem genérica que pautou essa pintura de grande repercussão durante o segundo pós-guerra e que é celebrizada mesmo nos dias de hoje.’

Ana ressalta que o homônimo do artista não recria obras, mas produz imagens possíveis. ‘As matrizes para essas simulações não são escolhidas aleatoriamente. Ele seleciona aquilo que interessa apropriar. Não se trata de uma apropriação apenas da visualidade, mas ainda dos procedimentos aos quais recorriam os principais nomes da pintura abstrato-expressiva.’

A exposição mostra ao visitante o processo de produção das obras. O manual Como fazer um Pollock está ali, inventariando o fazer. Ao criar o homônimo e suas obras, o verdadeiro artista alerta, como esclarece a curadora, para a mitificação contemporânea do artista e da arte a partir da posição de um falsificador. ‘Ele aponta para o clichê que vigora ainda hoje como imitação, simulação e entretenimento, uma vez perdida a característica transgressora do gesto. Ficamos nesse lugar sem contornos, entre a sedução da pintura e nossa necessidade de um autor e um original, de uma verdade da expressão que garantisse a permanência da aura da obra de arte.’

A matéria de Kiyomura pode ser lida aqui: http://jornal.usp.br/cultura/mac-apresenta-as-varias-faces-de-gustavo-von-ha/

Outra matéria digna de menção foi realizada por Mariana Tessitore.

“Artista questiona ideia de originalidade e promove crítica ao sistema das artes a partir da ironia. (...) Na exposição, o verdadeiro Gustavo von Ha, artista de 39 anos, cria um homônimo que simboliza os estereótipos associados ao fazer artístico. A curadora da mostra, Ana Cândida de Avelar, explica que a exposição cria ‘um duplo do Gustavo, que seria na verdade a colagem de muitos clichês de artistas celebrados pela história da arte’. (…) As obras são inéditas, porém ‘não originais’, já que justamente um dos intuitos de von Ha é questionar o conceito de originalidade: ‘Toda a nossa formação se dá pelo ato de copiar, imitar’, afirma. O assunto já apareceu em outras produções do artista, como, por exemplo, a série de objetos que criou a partir de cópias de desenhos de Tarsila do Amaral e José Leonilson e também no projeto Heist Films Entertainment, uma produtora fictícia de cinema que cria trailers de filmes que não existem. Nesta exposição, o artista faz referência ao expressionismo abstrato, corrente cujo grande representante é o norte-americano Jackson Pollock. Segundo a curadora, a escolha por essa tendência se deu devido ao seu impacto na história da arte: ‘A pintura gestual marca a passagem da capital das artes de Paris para Nova York, no final da Segunda Guerra Mundial. A partir desse momento, todo o sistema das artes se transforma profundamente. Formam-se museus e galerias muito poderosos e uma nova configuração que é a que temos hoje’. (…) Destaca-se uma fotografia na qual Von Ha simula a imagem icônica na qual Pollock aparece jogando tinta em uma de suas telas. ‘Quando fui encenar essa foto famosa, percebi que ela foi totalmente produzida. Claro, era para uma revista, mas a gente imagina que foi um momento espontâneo dentre muitos que o fotógrafo registrou. Mas percebi que não. Foi posado mesmo, aquela luz é totalmente improvável. Então a verdade é que essa foto já era uma simulação naquela época. Demorei mais de dez horas para fazer aquele clique. Ou seja, apresentar esse discurso de suposta originalidade em 2016 é totalmente incoerente’, afirma o artista.(…) A atuação é um aspecto central da mostra, o que leva o artista a associar a exposição à performance: ‘O que se faz hoje, e eu me incluo nisso, é uma grande representação. As pessoas simulam muitas coisas, são personagens’.”

A matéria de Tessitore pode ser lida aqui: http://brasileiros.com.br/2016/11/quem-e-gustavo-von-ha/

Mais textos sobre a obra do artista podem ser lidos aqui: http://www.von-ha.com/inventario-arte-outra

Até a próxima.

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