Sujeito oculto. Cristiane Costa

Reynaldo Carvalho

"Nenhuma superfície é virgem, tudo já nos chega áspero, descontínuo, desigual, marcado por algum acidente: o grão do papel, as manchas, a trama, o entrelaçado dos traços, os diagramas, as palavras."

Roland Barthes

 

Sujeito Oculto

Brochura 156 páginas Aeroplano
aeroplanoeditora.com.br

E-Book E-Galáxia
e-galaxia.com.br

Cristiane Costa é graduada em jornalismo pela UFF, com mestrado em Comunicação pela UFRJ, doutorado em Comunicação pela UFRJ e pós-doutorado pelo Programa Avançado de Cultura Contemporânea, PACC-UFRJ. Atualmente é professora do curso de Jornalismo da ECO-UFRJ.

Em Sujeito Oculto Costa, que também trabalha com a noção de literatura expandida, evidencia como a produção autoral na contemporaneidade adquire contornos curatoriais, ou seja, envolve escolha, organização, mediação crítica, montagem, edição e disseminação de conteúdo.

Na contracapa do livro, Heloisa Buarque de Hollanda aponta: “usando a maestria de ser uma das mais conhecidas pesquisadoras dos horizontes que a mídia digital vem abrindo para a criação de novos formatos narrativos, Cristiane Costa vai fundo nas possibilidades do visual writing, do remix e do sampling, da pirataria criativa, da autoria indefinida e, ainda, da mistura deliberada de gêneros.”

Cristiane Costa é, mas não só, uma escritora da cultura remix. E o que significa isso?

Como indica Lucia Leão, “trabalhar com conteúdos da cultura, recombinar fragmentos, reler notícias, frases, imagens e vídeos são atividades expressivas típicas da cultura remix. As mídias digitais, os bancos de dados e a lógica do software povoam a cultura contemporânea. Nesse cenário, processos específicos de criação e produção de linguagem emergem nas redes. Atividades corriqueiras como ‘cortar, copiar e colar’ desvelam procedimentos que sustentam a cultura do remix. Trabalhar com arquivos, descontruindo e reconstruindo materiais fragmentados, é algo bastante frequente nas práticas das redes, e esses procedimentos possibilitam e facilitam atos de apropriação, releituras e colagens. Cada fragmento escolhido para um remix carrega consigo seus vínculos culturais, imagéticos e imaginários. Nos novos acoplamentos e recombinações, novas imagens e imaginários são criados. Somente os projetos que articulam essas dimensões exploram o remix enquanto linguagem.” 

Leia o artigo completo em http://www.revistas.usp.br/Rumores/article/view/120924/124262

Também Manuela Peixinho aborda a instabilidade das figurações do autor no contexto contemporâneo, a partir dos estudos teóricos de Foucault, Barthes, Contreras e Ludmer.

“O espaço virtual, em especial, abre a chancela da rasura da noção de autor moderno, do século XVIII e XIX. Ludmer considera que essa nova relação com a tecnologia faz parte da pós-autonomia da arte, em que textos são produzidos imbricando diversas mídias (sons, vídeos, imagens), expandindo a ideia de literatura, não com o intuito de demoli-la, mas de suplementá-la. A expropriação da autoria pode ser entendida como o fortalecimento da criatividade particular em mixar, não em criar. A mistura, a fluidez, a troca e apropriações são constantes em diversos espaços estéticos, das artes plásticas a livros e a músicas. Para Lethem, a cultura da reprodutividade fez refletir, novamente, sobre a relação entre o original e a cópia, especialmente no que tange à apropriação. Esta deslocaria o sentido do plágio fora do valor negativo, possibilitando diversas formas intertextuais, todavia, mesclando a autoria. Vale ressaltar que, para Barthes, ‘o escritor não pode deixar de imitar um gesto sempre anterior, nunca original; o seu único poder é o de misturar as escritas, de as contrariar umas às outras, de modo a nunca se apoiar numa delas.’. Nessa perspectiva, a apropriação seria natural a todo discurso.”  

Conferir em http://www.revistas.uneb.br/index.php/tabuleirodeletras/article/viewFile/1104/765                                                 

Sobre Sujeito oculto, escreveu Débora Molina:

“O mote de Sujeito oculto é a pergunta sobre a criatividade. Colocando em xeque a criatividade, Cristiane Costa escreve um livro criativo apelando para o procedimento do recorte e cole. O conjunto da obra nos revela um sistema de autoria que parece brincar com os textos, e que ganha bastante efeito com os recursos gráficos e a metaficção crítica. O que poderia ser considerado ‘fraude autoral’, pois utiliza-se do texto de outros, transforma-se numa potência narrativa que não só desestabiliza o leitor que fica refém de uma narrativa oculta, como faz refletir sobre o processo de criação autoral, sobre o risco do investimento em novas possibilidades de fazer literatura.”

Mais em https://leiturascontemporaneas.org/publicacoes/resenha/sujeito-oculto-leitura-e-apropriacao/

Endossa Ovídio Poli Junior:

“Em Sujeito oculto, Cristiane Costa derruba fronteiras entre ficção, biografia e ensaio e questiona a noção de autoria. O romance é tecido a partir de citações, frases feitas e colagens. Assim, em meio à trama temos intervenções várias, apontamentos de agenda, recortes de jornal, horóscopos, trechos sublinhados de livros e páginas de anotações — material vário que, sob a moldura colocada pela autora, assume conotação expressiva no interior da obra. Em entrevista recente, Cristiane afirmou ‘Artes como a pintura, a fotografia, o cinema e a música já incorporaram a apropriação por meio da colagem, da montagem, do sampler e do deslocamento há muito tempo. A literatura tem mais pudor. Plágio seria assinar como sua uma obra criada por outra pessoa, ou que contenha trechos significativos de uma obra de outro autor, sem que isso seja declarado’. Afinal de contas, o que é um autor? Borges, Barthes e Foucault teriam muito a dizer sobre isso.”

Mais em http://rascunho.com.br/a-arte-de-roubar/

O livro pode ser lido, na íntegra, em https://www.academia.edu/10671791/Sujeito_oculto_-_texto_integral 

Até a próxima.

 

 

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