Walter Benjamin, a construção do conceito de pós-modernidade e uma revista provocativa

Reynaldo Carvalho

"Nenhuma superfície é virgem, tudo já nos chega áspero, descontínuo, desigual, marcado por algum acidente: o grão do papel, as manchas, a trama, o entrelaçado dos traços, os diagramas, as palavras."

Roland Barthes

 

 

 

 

Um ótimo texto de Luis Sérgio Santos:

“O antológico texto de Walter Benjamin,  A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica é base teórica para a construção do conceito de pós-modernidade. Na verdade, ele evidencia a própria essência do conceito, de fragmentação, dissolução, uma desorganização caótica que traduz sua própria essência.

(…)

Se analisasse um clip da MTV, desconstruindo-o morfologicamente, Walter Benjamin constataria o estágio atual da linguagem fotográfica, imbricada em outras naturezas plásticas, dessacralizada e elevada à extrema condição de experimentação a ponto de se converter em ruído decodificável on demand por milhares de formas possíveis, a critério de cada um receptor.

As tecnologias de edição de imagem com softwares que se renovam a incrível velocidade cuidaram de violar ainda mais o que já nasce sem original comprometendo, agora sim, radicalmente, a possibilidade de em algum dia, no futuro, essa aura ser restaurada tamanha a deformação do suposto ‘original’ e sua atual forma de armazenamento, totalmente digital.

É a expressão pós-moderna elevada exponencialmente. (…)

Numa teoria estética dialética, pós-WB, a pós-modernidade, do ponto de vista dos produtos culturais, na fase atual da economia de escala, tem como marco fundador o fim do original da obra de arte, a produção serial em escala global ao mesmo tempo em que se ampliam os canais de distribuição e as formas de armazenamento e as tentativas de controle desses canais a partir da superestrutura. No entanto, a ampliação da base tecnológica tem convertido o que antes era somente receptor, em emissor. Contraditoriamente, os canais de distribuição da indústria cultural monopolista continuam se impondo como hegemônicos mesmo quando servem de base tecnológica para armazenamento e distribuição dos canais das chamadas redes sociais.”

O texto, na íntegra, pode ser lido em: http://www.academia.edu/4545694/WALTER_BENJAMIN_E_O_CONCEITO_DE_P%C3%93S-MODERNIDADE

Outra ótima matéria sobre o pensamento benjaminiano foi produzida por Paulo Carvalho. Nela, a entrevistada Jeanne Marie Gagnebin  critica a conversão de Walter Benjamin  em objeto de consumo, além de ver no produtivismo acadêmico atual a morte da criação e da alegria.

A matéria pode ser lida, na íntegra, aqui: http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/walter-benjamin-fetiche-cultural-ou-subversao/

Walter Benjamin em 1928, em Paris. Foto da cédula de identidade.

Do editorial do primeiro número:

“Talvez, as intenções desta publicação sejam tão somente confrontar dispositivos que insistem em deslocar diferentes modalidades de enunciação para espaços ou aquém, ou além das próprias possibilidades-possíveis. Talvez, tudo isto não passe de uma ironia maliciosa, de uma provocação. Afinal, seria possível conciliar a diversidade do artístico em um formato acadêmico? Seria heresia, traição ou mera formalidade? Fato é que, como qualquer outro dispositivo, uma revista pode corroborar com aqueles constrangedores procedimentos de exclusão discursiva explicitados por Michel Foucault (1926-1984) que embargam a fala de qualquer um sobre qualquer coisa em qualquer circunstância mediante interdições como o tabu do objeto, o ritual das circunstâncias ou o direito privilegiado do sujeito que opina. Sinceramente: bobagem. As vontades aqui são outras. Para além das normativas acadêmicas que podem (apesar de nem sempre ser o caso) ensurdecer diálogos; corromper entranhas; embargar a sinceridade inconveniente; contagiar a generosidade com sutis dimensões sórdidas; promover a competição egoísta; e etc. é preciso resgatar o espontâneo e o ridículo; o absurdo e as pretensões de se ser esdrúxulo. Sendo que, talvez o maior desafio seja fazer isto metodicamente, a partir do adverso ínfimo das possibilidades”.

A revista já está em seu quinto número, com excelentes matérias e pode ser acessada aqui: http://periodicos.unb.br/index.php/metagraphias/issue/archive

No primeiro número pode ser lido o excelente artigo de Priscila Monteiro Borges: Criatividade no mundo da cópia

 Resumo

No mundo contemporâneo e digitalizado em que as práticas de cópia, reapropriação e mixagem vem se tornando bastante difundidas, vivemos um momento de reconfiguração do próprio conceito de criatividade. Como podemos entender os processos criativos atualmente? De que modo essas práticas podem ser consideradas criativas? O artigo buscará discutir essas questões a partir de estudos sobre criatividade e linguagem traçando relações entre estudos científicos, textos literários e práticas artísticas.

O texto, na íntegra, pode ser lido aqui: http://periodicos.unb.br/index.php/metagraphias/article/view/15820

Até a próxima.