Comunicação científica para além da divulgação

Victor Barcellos

A Ciência moderna, baseada no método cartesiano¹, condicionou-se a seguir basicamente os seguintes passos: escolha de um problema, definição das hipóteses, experimentação, avaliação dos resultados e divulgação. Sendo assim, o papel dos cidadãos de fora da academia se resumiria em ser público-alvo das verdades descobertas pelos cientistas. O público geral seria, assim, uma massa passiva no processo, presente apenas no último estágio da pesquisa, a quem a informação se endereçaria.

Todavia, há tempos o campo da Comunicação já deixou o paradigma da transmissão². Numa sociedade em rede³ é impossível (e mesmo indesejável) que toda uma inteligência coletiva que poderia estar à disposição da Ciência seja apenas um público consumidor, e não produtor de conhecimento. Numa época onde a participação é a palavra de ordem, não se pode deixar os cidadãos em geral de fora de algo que influencia tanto a sociedade como a Ciência o faz.

Nos últimos tempos um sem número de novos canais de divulgação científica surgiram e têm um papel importantíssimo em tornar o conhecimento um bem comum. Entretanto, para a Ciência Cidadã, para que ela seja de fato um bem comum, deve estar disponível a todos não apenas seu produto final, mas todo seu processo. Cidadãos podem contribuir de muitas formas: na definição dos problemas, no levantamento de hipóteses, na avaliação dos resultados e também na divulgação dos resultados.

É preciso, desta maneira, ir além da divulgação científica e pensar uma comunicação científica. Entendendo, então, que a comunicação está presente em todo o processo de produção do conhecimento, e não apenas ao fim deste. A partir desse entendimento, diversas possibilidades de pesquisa se abrem: que atores, redes e tecnologias são mobilizados durante todo esse processo? Qual a contribuição de cada um deles? Talvez o principal problema da Ciência contemporânea seja um problema de Comunicação.

1. DESCARTES, René. Discurso sobre o método. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

2. SHANNON, Claude E. & WEAVER, Warren. Teoria matemática da comunicação. São Paulo / Rio de Janeiro: Difel,1975.

3. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede, v. 1. São Paulo: Paz e Terra, 999.

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