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O quanto seu consumo estimula o trabalho precário?

Por Bia Martins

Taí uma pergunta incômoda. De modo geral, condenamos a crescente precariedade do trabalho, mas é mais difícil pararmos para avaliar o quanto nossos hábitos de consumo podem estar contribuindo para o fortalecimento do modelo das corporações de plataforma que praticamente não garante nenhum direito trabalhista e deixa todos os custos da operação e a cobertura de riscos por conta do trabalhador.

É muito comum ouvirmos pessoas que normalmente se preocupam com as questões sociais contarem o quanto economizaram numa compra na Amazon. É curioso observar como não se leva em conta o que está por trás de uma promoção tão atraente. Se um produto é vendido no mercado na faixa de, digamos, 90 a 100 reais, e é oferecido por 70 reais ou menos na Amazon, não há dúvida de que existem razões muito concretas para isso acontecer.

Além das práticas conhecidas de mercado que só as grandes empresas conseguem atingir, como obter grandes descontos dos fabricantes, é sabido que a Amazon explora seus empregados até o limite, ou mesmo ultrapassando esse limite, a fim de garantir não só o menor preço como o menor prazo de entrega e, claro, seu maior lucro. Trabalhadores que vivem sob tensão constante do monitoramento por algoritmo, não conseguem fazer pausas nem para necessidades básicas, e se não correspondem ao alto rendimento esperado são sumariamente demitidos pelos mesmos algoritmos, sem mediação humana…

Mas existe um outro lado, também muito relevante, que deveria ser levado em conta. É frequente, do mesmo modo, o lamento pelas livrarias físicas que estão fechando suas portas. Mas, poxa, se agora você só compra seus livros na Amazon porque é mais barato, como imagina que as livrarias possam continuar tocando seu negócio? Então, me parece que vale a pena parar para pensar até que ponto a economia feita na compra de um livro pesa de fato na sua renda mensal e se vale o desmonte de toda uma cadeia de livreiros, que gera empregos e move a economia local.

E esse é o ponto que considero muito relevante: o fortalecimento da economia local. Enquanto compramos produtos na Amazon e andamos de Uber, estamos enviando nosso dinheiro, no todo ou em parte, para o Vale do Silício, e diminuindo a circulação de dinheiro no nosso território. Parece tão óbvio, mas não é, pois na medida em que as transações são mediadas por aplicativos, tudo parece não pertencer a lugar nenhum e, por isso, ser equivalente. Não é o que acontece, e tem consequências.

No caso do Uber, é preciso considerar que atualmente muitas pessoas que perderam seus empregos têm conseguido garantir alguma renda como motorista de aplicativo. Não há dúvida de que é uma situação muito complexa no contexto de crise econômica que vivemos. Por outro lado, é conhecida a atuação escandalosa e fraudulenta da empresa para fugir de qualquer vínculo trabalhista com seus motoristas "parceiros".  Mas existem já algumas iniciativas no modelo de cooperativas que oferecem esse serviço, em um modelo mais justo, mas enfrentam a tal questão de escala: a Uber chegou primeiro e dominou o mercado. A grande maioria das pessoas tem o seu aplicativo instalado e resiste a experimentar uma novidade.

Então, e aqui finalizo meu argumento, entendo que cabe a nós, a parcela da sociedade que se importa com o desenvolvimento sustentável da economia e com condições de trabalho justas, fazer um esforço para deixar de lado esse modelo mais à mão de consumo, que embute alta precarização do trabalho, e investir em alternativas que estejam na direção oposta. A opção mais interessante são as iniciativas enquadradas no conceito de cooperativismo de plataforma, que articula a potencialidade de tecnologias digitais a favor de lógicas cooperativistas, comunitárias e de economia solidária. Porém ainda estão em seu início, não estão presentes em todas as cidades nem oferecem todos os serviços.

Ainda assim, buscando opções mais justas e potencialmente mais ricas para nossa economia, as livrarias físicas são melhores que a Amazon, além de tudo oferecem um ambiente de encontro e leitura que é insubstituível. Para o Uber existem alternativas que variam de cidade a cidade. No Rio de Janeiro existe o Táxi Rio e em São Paulo o SPTAXI, que oferecem descontos bem competitivos, o dinheiro vai todo para o taxista, que por sua vez faz com que ele circule na economia local. Há opções semelhantes em outras cidades.

Eu poderia aqui ampliar a discussão e falar também do consumo de alimentos, sempre há a opção de valorizar o pequeno produtor ou organizações coletivas como a Teia dos Povos ou o MST. O fato é que em grande parte do que consumimos em produtos ou serviços é possível buscar e encontrar alternativas ao modelo emergente do capitalismo de plataforma que parece mais prático e mais "atual", mas embute uma série de externalidades negativas, seja na precariedade das condições de trabalho, seja nos impactos na economia local, sem falar nos danos potenciais ao meio ambiente.

Enfim, cada um sabe de si e do seu orçamento, mas é importante termos em mente que cada atitude nossa, ao estimular um modelo de produção e de consumo, contribui para definir os rumos mais amplos da economia, para o bem e para o mal. Então, a cada momento é possível parar para avaliar quais são as opções disponíveis e qual pode oferecer um modelo de trabalho mais justo e de economia mais sustentável. Sim, às vezes parece que um ato isolado não fará diferença, mas faz. Principalmente quando mais gente decide fazer parte da mudança.